Uma pintura é constituída por várias camadas, as principais das quais são, da base para o topo, o suporte, a camada de preparação, as camadas cromáticas e a camada de verniz.
Tal como uma pintura, há muitos outros objectos que contêm finas camadas de diferentes materiais que frequentemente é necessário descrever e caracterizar segundo diversas perspectivas. Podem ser as camadas cromáticas de uma escultura policromada, as camadas de produtos de alteração formados à superfície de um objecto de metal, a camada de alteração de um vidro, as camadas de uma fotografia ou de uma película fotográfica, etc.
Um dos parâmetros de caracterização dessas camadas é a sua espessura, a qual geralmente é determinada observando com equipamento de microscopia uma amostra retirada transversalmente à obra, que expõe um corte estratigráfico. Entre diversos parâmetros de caracterização dessas camadas conta-se a espessura, a qual frequentemente é inferior a 1 mm.
Com alguma frequência, embora não tanto como no passado, a espessura de tais camadas é expressa em "micras" ou "mícron" para as quais é usado o símbolo µ, ou seja, a letra grega "miu". Acontece, no entanto, que o µ não é símbolo de alguma unidade, nem a micra, de acordo com as normas, é uma unidade. No Sistema Internacional de Unidades que quase todos os países do mundo formalmente adoptaram (já aqui referido), o símbolo µ é um prefixo que se pode aplicar a qualquer unidade, formando o conjunto uma unidade um milhão de vezes inferior à unidade inicial ou principal, aquela a que foi aplicado o tal prefixo. Por exemplo, 1 µL (um microlitro) representa um volume um milhão de vezes inferior ao litro e 1 µm (um micrómetro) representa um comprimento um milhão de vezes inferior ao metro. Ou seja, "micras" ou "mícrons" há muitos, sendo necessário indicar o que é que é "micro".
Portanto, no contexto referido, é o micrómetro que "micra" ou "mícron" pretendem representar e é o símbolo µm que deveria estar onde erradamente está apenas µ. Ou seja, há camadas de tinta com 20 µm de espessura, mas não com 20 µ.
É certo que noutros contextos há mais alguns casos de emprego de um prefixo como unidade. O mais frequente é provavelmente a referência no dia-a-dia ao "quilo", em vez de quilograma, a respeito, por exemplo, de produtos alimentares – ainda que nos rótulos surja correctamente o símbolo kg e não apenas "k". Outro caso é o das referências a componentes de computador, como, por exemplo, a referência a um disco de 500 "gigas". Mas também esse tipo de referência ocorre sobretudo oralmente e em anúncios de publicidade, indicando correctamente a caixa do dito que a capacidade de armazenamento é de 500 GB, ou seja, 500 gigabytes, isto é 500 milhões de bytes (o prefixo giga, representado por G, significa um milhão de vezes maior). Portanto, há, de facto, vários exemplos de uso de um prefixo como unidade. Porém, como se sabe, não se deve escrever como se fala – pelo menos num texto de natureza académica -, nem a publicidade é de fiar...