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Azul ultramarino

É um pigmento de origem natural, de cor azul escura ligeiramente arroxeada, obtido a partir do lápis-lazúli – uma pedra semi-preciosa que durante muitos séculos provinha quase exclusivamente de uma certa região do actual Afeganistão, de difícil acesso. O seu nome, ultramarino, resulta, portanto, de vir do outro lado do mar. Muitos dos pigmentos naturais podem ser obtidos apenas por simples trituração dos respectivos minerais, mas isso não sucede com o azul ultramarino. O lápis-lazúli é uma rocha constituída por vários minerais, dos quais apenas a lazurite tem cor azul. Se este não for separado dos outros minerais, nomeadamente a calcite (de cor branca) e a pirite (de cor dourada), obtém-se um pigmento de cor acinzentada e não de cor azul intensa. O processo de separação é muito mais complexo do que o empregue no caso dos outros pigmentos e só foi descoberto cerca de 1200, razão pela qual os pigmentos obtidos a partir do lápis-lazúli foram pouco utilizados em pintura antes dessa data e não são mencionados pelo monge Teófilo. Este processo de preparação é minuciosamente descrito por Cennino Cennini.

Mineralogicamente, o azul ultramarino corresponde à lazurite; quimicamente é essencialmente um aluminossilicato de sódio e cálcio com enxofre.

O azul ultramarino foi especialmente apreciado na Idade Média, sendo então o pigmento azul com cor mais intensa e mais estável. A sua origem remota, o laborioso processo de preparação e a sua cor apreciada, fazem com que o azul ultramarino adquira o estatuto de material precioso e tenha um muito elevado preço. Por isso, alguns contratos obrigam os pintores a usar azul ultramarino nas obras em causa e outros estabelecem que o pigmento é pago à parte ou é fornecido directamente pelo encomendante, tal como acontecia com o ouro. Devido ao facto de o lápis-lazúli chegar à Europa pelos portos italianos, particularmente o de Veneza, o azul ultramarino era com frequência e abundância usado em Itália nas pinturas mais importantes ou grandiosas. Fora de Itália era usado com mais parcimónia. O português Filipe Nunes dizia que "o azul Ultramarino, como é tão caro não se usa muito, e portanto se não sabe o uso dele tão facilmente". Francisco Pacheco dizia "que nem se usa em Espanha nem têm os pintores espanhóis capital para o usar". Devido ao seu custo, em várias obras flamengas do século XV, o azul ultramarino foi aplicado numa fina camada superficial sobre uma camada de azurite, muito mais económica, que dava o tom geral azul. Este procedimento também foi empregue em Itália.

Em Portugal, até à data, apenas foi identificado numa das pinturas de Lourenço de Salzedo que integra o retábulo do mosteiro dos Jerónimos, estando publicada correspondência relativa à sua aquisição em Itália, em que intervém a rainha D. Catarina. O uso do nome azul ultramarino está documentado, pelo menos, desde 1571.

O elevado valor monetário do pigmento é acompanhado de um importante valor simbólico, para o qual também contribuem as suas propriedades. Sobre o pigmento dizia Cennini: "Cor nobre e bela, a mais perfeita de todas as cores, da qual nada se pode dizer ou fazer que a sua qualidade não ultrapasse". Por isso o azul ultramarino foi especialmente utilizado nos motivos mais importantes das pinturas como, por exemplo, o manto da Virgem Maria. Aliás, na Idade Média esse manto passou a ser pintado de azul, em vez de vermelho ou branco, provavelmente porque essa era a cor do azul ultramarino, ou seja, do pigmento mais precioso.

Os séculos XIV a XVII correspondem ao período em que teve maior importância. A perda da carga simbólica dos materiais, iniciada com a adopção da pintura a óleo e, por outro lado, o aparecimento de outros pigmentos azuis, sintéticos, muito mais económicos, especialmente o azul da Prússia, o azul de cobalto e, finalmente, o azul ultramarino artificial ou azul ultramarino francês, levam à sua gradual substituição e ao seu quase total desaparecimento das paletas dos pintores na 2.ª metade do século XIX.

Tradução

ultramarine blue / bleu outremer / blu oltremare / azul ultramar

Bibliografia

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