António João Cruz
Director do Mestrado em Conservação e Restauro do Instituto Politécnico de Tomar
O ano lectivo está a terminar e muitos dos que até agora eram alunos estão a terminar uma fase das suas vidas, preparando-se para entrarem no mercado de trabalho de acordo com a formação que adquiriram. De uma forma geral, os que assim saem dos institutos politécnicos, como o de Tomar, irão contribuir para o desenvolvimento da região onde se insere a escola que frequentaram. Isso é uma consequência da implantação dos institutos politécnicos e do seu alcance sobretudo regional no que diz respeito à captação de alunos. Havendo politécnicos em todos os distritos, nalguns casos mais do que um como sucede no distrito de Santarém, é compreensível que assim suceda.
No entanto, há excepções, nomeadamente no Instituto Politécnico de Tomar (IPT), onde há cursos, especialmente os que não estão ligados às engenharias, que têm uma área de influência verdadeiramente nacional. É o caso dos cursos de Conservação e Restauro (licenciatura e mestrado).
A Escola Superior de Tecnologia de Tomar foi a primeira instituição a oferecer formação superior em Portugal na área da Conservação e Restauro, o que aconteceu em 1989. Desde então já passaram muitos anos e são inúmeros e diversificados os anúncios de cursos ditos de Conservação e Restauro que surgiram ou continuam a surgir, mas há apenas três escolas com cursos reconhecidos pelas instituições relevantes da Conservação e Restauro, nomeadamente a Associação Profissional dos Conservadores-restauradores de Portugal (ARP) e a Rede Europeia para o Ensino da Conservação e Restauro (ENCoRE). Uma é a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, outra é a Escola das Artes da Universidade Católica, no Porto, e a terceira é o IPT. Em comparação com outras áreas, onde cursos análogos surgem em muitas instituições, corresponde a uma situação de reduzida oferta. Além disso, as três escolas têm perfis de formação e custos associados muito diferentes: em Lisboa formam-se sobretudo cientistas da Conservação, mais voltados para o estudo científico das obras do que para o tratamento nas mesmas; no Porto os alunos pagam as propinas habituais numa escola privada; em Tomar, com os custos muito mais reduzidos de uma escola pública, pretende-se sobretudo formar conservadores-restauradores especialmente habilitados para a resolução dos problemas das obras que necessitam da sua intervenção, ou seja um perfil menos académico e mais profissional.
Neste contexto, compreende-se a atracção a nível nacional que o IPT tem entre quem pensa seguir a profissão de conservador-restaurador. No caso especifico do mestrado em Conservação e Restauro, os números são muito elucidativos: no conjunto dos alunos que frequentaram o curso nos últimos 12 anos (entre 2012-2013 e o presente), apenas 15 % eram do distrito de Santarém, sendo 24 % do distrito de Lisboa, 27 % dos 6 distritos a norte de Santarém e a sul do rio Douro, 19 % dos distritos a norte do Douro, 13 % do Alentejo e Algarve e 3 % das ilhas.
É evidente que os alunos da região, se aqui se mantiverem, vão contribuir para o desenvolvimento desta. Mas os que vêm de outras zonas do país, graças ao curso que frequentaram, não só contribuíram para a vida da cidade durante os anos em que aqui estiveram instalados, como muitos vão manter uma ligação afectiva à cidade que vai perdurar no tempo, valorizar e enaltecer a sua imagem e contribuir para que outros aqui rumem, de forma mais passageira ou mais permanente. Os anos que passaram em Tomar, coincidentes com um período de liberdade e descoberta próprio da idade e do afastamento em relação à habitação familiar, frequentemente constituem-se como um período mítico caracterizado pela felicidade que fica associada ao sítio, e esta imagem vai trazê-los regularmente à cidade, passar para outros e, de diversas formas, beneficiar Tomar. Não apenas num contexto pessoal, pois aqueles que criam pequenas empresas – e têm sido muitos – estão sempre interessados e especialmente disponíveis para colaborar com o IPT, seja, por exemplo, através de parcerias ou acolhendo estagiários ou recém-formados. Em suma, a contribuição para a região, de quem dela não é, não se limita ao tempo em que foram alunos em Tomar.
“Thomar é nossa”, com a ortografia arcaica que estabelece a ligação a um nível mais profundo, é uma expressão que frequentemente se lê nas mensagens que os antigos alunos de Conservação e Restauro do IPT trocam quando encontram e divulgam nas redes sociais antigas fotografias que os mostram, quando alunos, felizes na cidade.
“Thomar é nossa e – acrescentam alguns – sempre será”.
António João Cruz, "Thomar é nossa", O Templário, 38(1858), 2024-08-01, p. 3